Biografetas

LIGIA NO SÓTAO COM DIAMANTES

Navego a teu lado

O sol e a lua amanhecem

em olhos rosa-púrpura

entre o sono e o sonho

são e salvo em tua guarda

Noites curtas, dias loucos

Acordo na barraca alagada

só tua visão me ilumina

Quanta alegria repentina

dividimos sem tiro ou tino

Mergulho desses não é

pra espelho sem aço

É à margem do riacho

que começa nossa onda

quando chega do outro lado

a Gioconda cai no riso.

*

FONTOURA SEM FIM

Duende não volta no tempo

aprende com a vida à deriva

Aposta corrida com o vento

na chuva não busca guarida

Na escrita da língua dos peixes

o nada é a primeira palavra

As casas que cria e partilha

nao abrigam fofoca ou enredo

Janelas transbordam de luz

entradas se abrem sem medo

No meio do aquário do dia

mergulha na transparência

A bondade é sua meio mania

e o nome do meio é paciência

Amigo daqueles que vale

a distância entre o sol e as estrelas

Cometa com esta centelha

só cruza o infinito uma vez.

*

J.FLASH

O traço à mão livre

e a mãe imaginária

a fantasia ultrapassa

a realidade sem graça

O flash que lampeja

não deixa marca no pavimento

Da promessa de gênio

ao roubo da bilheteria

tudo se esvai como lágrima

e choro no temporal

O enigma se curva e cobre

sua face com a cauda

Outra palavra infinita

e a aparição se recolhe.

*

AS MULHERES DO MILTON

Lânguidas, esquálidas, andróginas

Emergem da página pálidas

singrando a retina em silêncio

como lua em tarde nublada

A nuance, o cigarro e a volúpia

Art Noveau, Beardsley e Mucha

o langor dos cabarés, anos 20

Bessie, Billie e o blues do Louis

Mas o mundo escurece depressa

o amor dos homens é discreto

o êxtase se vai e o que fica

é o esplendor das mulheres derramadas.

*

XUXA BRANCA & LILÁS

Fada madrinha do povo do abismo,

viu mais coisas que pensamento aceita

Fez do obscuro, sua iluminação

prescreveu a própria sina com audácia

O coração é maior do que se conhece,

profundidade tão densa que assusta

Mergulho no azul que teu olhar define

como baleia que vem à tona pra respirar

Quando falas com os peixes,

o mar se acalma e acata teu silêncio

Lua do meio dia, teu acerto escapa aos incautos

e restamos eu e a pequena multidão convertida

Testemunha de tua graça, consulto teu pulso

como gato agradecido, tua jornada é meu plano B.

One thought on “Biografetas

  1. Luiz Peixe says:

    Biografetas, retratos em tamanho paisagem de dias – às vezes angustiados, algumas vezes turbulentos, sempre inefáveis.
    Como quando subimos a serra (não lembro se estavas) no DKW do Mario e achamos -através de desindormações – uma bola de diamba, desvio de rota do Caetano, não o Veloso.

    Like

Leave a comment

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.